Temos observado crianças paradas, isoladas, sozinhas, sem saber interagir com os outros, sem limites, sem contornos e sem experiências. A pandemia veio agravar um quadro que já estava se instalando: crianças vivendo em espaços cada vez menores, ficando muito tempo diante de telas e tendo pouco contato com a natureza. Os adultos, preocupados com o que a criança será no futuro, e não com o que ela é agora, também contribuem para o aumento desses problemas antecipando fases e intensificando o ensino de conteúdos acadêmicos em detrimento de vivências e experiências que as crianças precisam ter.
Estamos pulando etapas cronológicas que as crianças devem passar para poder desenvolver de forma plena suas habilidades e maturar seu sistema nervoso. Não damos tempo nem oportunidades para esse desenvolvimento, já que ansiamos pelo futuro e não estimulamos a vivência corporal.
Todo ser humano nasceu com uma máquina pronta para aprender. Toda criança é curiosa por natureza e usa o corpo para explorar, descobrir e entender o mundo ao seu redor para, então, poder agir e pensar sobre ele. O adulto deve aproveitar essa curiosidade demonstrada através do correr, pular, gritar, mexer e tantas outras formas com que as crianças vivem, para desenvolver os conteúdos que quer que elas aprendam.
O que vemos nas escolas hoje em dia, principalmente no Ensino Fundamental, são crianças sentadas por horas, copiando ou escrevendo em papéis. Exige-se delas imobilidade, silêncio, concentração, foco, memória, domínio acadêmico e outras competências, contendo seus corpos e represando sua energia. Como consequência, temos crianças desestimuladas, com problemas de comportamento, de atenção e de aprendizagem.
O desenvolvimento das funções cognitivas e emocionais das crianças acontecem conforme as funções orgânicas vão evoluindo e é na relação delas com o mundo, através do corpo em ação, que serão estimuladas de forma adequada.
Por meio de jogos e brincadeiras corporais ajudamos as crianças a desenvolverem as habilidades físicas, cognitivas e emocionais de que precisam como estrutura para a aprendizagem dos conteúdos acadêmicos. Quanto mais se movem, exploram, descobrem em seus corpos o mundo e as relações nele existentes, mais condições terão para que o aprendizado aconteça de forma plena.
Será que conseguimos estar mais atentos para como as crianças se movimentam e proporcionar a elas atividades de descoberta do seu corpo e do mundo real, desgrudando um pouco das telas e dos papéis?
Sandra Lobo é psicopedagoga da Clínica Fluir Terapias Integradas