Muitos pais não veem a hora de a criança completar 6 meses e começar a comer as tão esperadas comidinhas, seja papinha ou pedaços cuidadosamente cortados para a segurança do bebê, mas… e quando o bebê rejeita, vira a cara, empurra, ou parece não saber o que fazer com “aquilo” na boca? Ou quando o bebê come super bem e lá perto dos dois anos passa a dizer “Não quero!”, “Não gosto!”, “Eca!”?
A família normalmente insiste, porque já ouviu dizer que o alimento precisa ser apresentado cerca de 20 vezes antes de se ter certeza de que a criança realmente não gosta, muda a preparação, ou simplesmente deixa de oferecer aquele alimento, optando por outros de preferência da criança. Mas qual o melhor caminho?
É importante buscar entender o porquê da recusa ou dificuldade na alimentação, seja do bebê no início da introdução alimentar, da criança que já fala e, ainda assim, não deixa claro o motivo de não querer o alimento, ou mesmo quando já se passaram anos de tentativas frustradas na oferta de alguns alimentos. As causas são diversas, podendo estar associadas a questões orgânicas, como alergias ou refluxo gastroesofágico; sensoriais; psicossociais ou alterações motoras-orais. O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para identificar alterações motoras-orais, participar da orientação à família e realizar a intervenção com a criança e as pessoas que a alimentam ou com quem partilham as refeições.
Apesar disso, e independente da causa da dificuldade alimentar, é essencial que as crianças estejam inseridas em ambientes relacionados à alimentação. Atividades como ir à feira ou ao supermercado juntos, participar da separação e lavagem de frutas, verduras e legumes, fazer um bolo juntos e até alimentar uma boneca ou um super-herói, podem estimular o interesse pelos alimentos. Comer em família também propicia ótimas oportunidades de fornecer modelos de alimentação, desde a apresentação de alimentos variados ao prazer da interação em família. Algumas crianças se beneficiam muito desses momentos, passando a inserir novos alimentos em seu cardápio após mudanças de hábitos e atitudes familiares. No entanto, as crianças com Distúrbio de Alimentação Pediátrico (DAP), necessitam de um olhar mais aprofundado e da busca pelas causas das dificuldades apresentadas. Além do fonoaudiólogo, outros profissionais, como nutricionista, terapeuta ocupacional, psicólogo, pediatra e gastropediatra, podem ser fundamentais na busca pelo diagnóstico. Uma equipe interdisciplinar muitas vezes se faz necessária na intervenção com a criança e sua família, não só para a ampliação do cardápio, mas, sobretudo na intenção de garantir conforto, segurança e prazer em comer!
Bianca Ponciano é fonoaudióloga da Clínica Fluir Terapias Integradas