O mês de Abril chegou e com ele uma nova oportunidade de conversarmos um pouco sobre Autismo. Um tema tão atual, relevante, mas ainda cercado de muitas dúvidas e de informações equivocadas.
Por isto, durante este mês que é considerado o mês de conscientização sobre o Autismo, iremos compartilhar uma série de informações com vocês.
Para começar proponho que a gente resgate a trajetória histórica do Autismo. Revisitar esta trajetória ajuda a compreender o caminho percorrido até o momento atual e auxilia a pensar no caminho por onde seguir com relação ao conhecimento sobre o tema.
O que hoje é referido como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), foi descrito pela primeira vez, a partir de um grupo de 11 crianças, por um psiquiatra austríaco que trabalhava nos Estados Unidos na década de 1940. Ao longo de várias décadas um número cada vez maior de estudos vem sendo realizados com o objetivo de identificar a origem, as características e, principalmente, as melhores abordagens terapêuticas e educacionais para essas pessoas. Até a década de 1980, Autismo era considerado um distúrbio raro, sinônimo de psicose infantil e com manifestações muito severas. A partir da terceira edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais (DSM-III), publicado pela associação norte-americana de psiquiatria (APA, 1980), o Autismo passou a ser incluído no grupo dos Distúrbios Globais do Desenvolvimento (DGD), com a proposição de critérios objetivos para a atribuição desse diagnóstico.
A primeira proposta do conceito de “Espectro do Autismo” tinha uma perspectiva tridimensional, envolvendo os três grandes eixos do desenvolvimento (social, cognitivo/comportamental e de linguagem). Essa possibilidade de considerar as diferentes formas de manifestação, fundamentou a constituição de diferentes diagnósticos dentre os DGDs, como Autismo de alto funcionamento, síndrome de Asperger, DGD sem outra especificação e outros. As diferentes características e os critérios mais abrangentes para o diagnóstico, com uma perspectiva mais otimista em relação ao possível desenvolvimento, tem levado a um aumento consistente na prevalência dos quadros de autismo. Um levantamento do Centers for Disease Control and Prevention realizado nos Estados Unidos (CDC, 2021) identificou uma prevalência de uma criança com diagnóstico de Transtono do Espectro do Autismo a cada grupo de 44 crianças com oito anos de idade. As edições subsequentes do DSM procuraram aperfeiçoar os critérios de classificação de forma a identificar quais as manifestações que caracterizam o Autismo de forma consistente e exclusiva; quer dizer, o que caracteriza todas as pessoas com Autismo, mas só as pessoas com esse transtorno.
Ao longo das últimas oito décadas, essa busca por critérios mais claros para a identificação do Autismo tem sido acompanhada por esforços na busca pela identificação de fatores causais e tratamentos efetivos. Entretanto, apesar do envolvimento de um grande número de pesquisadores de diversas áreas, não há uma resposta adequada para nenhuma das questões. Não é possível dizer que haja um gene responsável pelo Autismo, nem que tenha sido identificado o mecanismo de especialização neurológica que explique o quadro, nem que haja um método educacional e/ou terapêutico que seja efetivo para todas as pessoas com Autismo.
As últimas publicações da APA (DSM-5, 2013) e da OMS (CID-11, 2018) passaram a propor um modelo bidimensional para o espectro do Autismo, considerando a variação de severidade dos sintomas e a maior ou menor necessidade de adaptações e suporte ambientais. Houve também uma mudança significativa na forma como os critérios para o diagnóstico são propostos. O DSM 5 passou a considerar apenas dois grupos de sintomas. O primeiro grupo, considerado o de características mais relevantes, envolve déficits em comunicação social e em interação social. O segundo grupo envolve interesses e/ou comportamentos restritos e/ou repetitivos e alterações de integração sensorial.
O que parece ter ficado evidente é que as características fundamentais comuns a todas as pessoas com Autismo são as dificuldades com relações interpessoais e as inabilidades na comunicação social, ou seja, no campo específico da linguagem que envolve a funcionalidade da comunicação em suas manifestações verbais e não verbais. Pessoas com autismo podem ter diferentes habilidades ou inabilidades formais de linguagem (vocabulário, fonética, gramática etc.) mas sempre têm dificuldades nos aspectos funcionais da linguagem. É fundamental lembrar que uma pessoa com Autismo pode ter diferentes níveis de inteligência, qualquer condição de saúde, diferentes estilos de aprendizagem, habilidades ou dificuldades específicas de processamento sensorial.
Cibelle Amato é fonoaudióloga da Clínica Fuir Terapias Integradas