Indivíduos que nasceram com fissura palatina mesmo após a correção cirúrgica (palatoplastia) podem permanecer com disfunção velofaríngea e apresentar alterações de fala que comprometem a sua comunicação.
Para a correção dessas alterações de fala, em especial a hipernasalidade (conhecida como fala fanhosa) e as articulações compensatórias (“soquinhos” e “raspadinhos” na garganta), são necessárias técnicas terapêuticas específicas. Sempre que houver a presença de articulações compensatórias, a ênfase da fonoterapia deve ser a correção de tais compensações. Desta forma, além de contribuir para a melhora da inteligibilidade de fala podemos, em alguns casos, inclusive chegar a adequar o fechamento velofaríngeo e, assim, eliminar a hipernasalidade.
Entretanto, quando houver apenas hipernasalidade é fundamental avaliar a função velofaríngea para verificar se há possibilidade de se atingir o fechamento velofaríngeo por meio da fonoterapia. Ou seja, muitos casos necessitam de outros procedimentos físicos (cirurgia secundária ou prótese de palato), antes da fonoterapia.
Historicamente, no Brasil, a fonoterapia de indivíduos com fissura palatina operados é vista como longa e com prognóstico ruim. Tal fato se deve a erros de diagnóstico e ao uso de abordagens não efetivas como exercícios oromiofuncionais (ex: exercícios de mobilidade e força de lábios, língua e palato e exercícios de sopro) dissociados da fala.
A abordagem terapêutica indicada para tratar as articulações compensatórias tem como base a aerodinâmica da fala. Esta abordagem propõe o direcionamento do fluxo aéreo para a cavidade oral e seu bloqueio no ponto articulatório específico de cada fonema. Diversas técnicas e materiais têm sido desenvolvidos para propiciar pistas multissensoriais (auditivas, visuais, táteis e cinestésicas) que auxiliam o paciente a perceber e produzir corretamente os sons alvo.
Além disso, é de fundamental importância a participação das famílias/cuidadores no processo terapêutico e o uso de estratégias para a transferência das aquisições para outros ambientes comunicativos.
Com diagnóstico preciso, abordagem terapêutica adequada, motivação do paciente e envolvimento da família, os resultados são muito bons. Quanto mais frequentes forem as sessões de fonoterapia mais rápido costumam ser os resultados!