Alimentar um bebê com fissura labiopalatina é um desafio inclusive para os profissionais que atuam em maternidades e que nem sempre estão preparados para lidar com este tipo de bebê. Este despreparo leva muitas vezes a tomarem medidas extremas, tanto de indicação do aleitamento exclusivo no seio materno, por um lado, como num outro extremo com a indicação de sonda nasogástrica antes mesmo de se avaliar a capacidade de sucção e deglutição do bebê.
Aleitamento materno
Bebês com fissura apenas labial não costumam apresentar dificuldades alimentares e podem, portanto, ser alimentados como qualquer outro bebê, ou seja, deve-se incentivar o aleitamento exclusivo no seio materno. É comum o bebê ter mais facilidade para se alimentar na mama do lado oposto ao da fenda labial, ou seja, na mama direita no caso da fenda ser do lado esquerdo e vice-versa. Nestes casos, se necessário, pode-se indicar a amamentação invertida a qual se orienta a mãe a escorregar o bebê para a outra mama, sem mudá-lo de lado.
Embora em tese seja possível o aleitamento no seio materno, o estado emocional da mãe frente ao nascimento de um bebê com deformidade facial, bem como seu desejo em amamentar o bebê, devem ser considerados na escolha da melhor via de alimentação. É comum a mãe estar em choque pelo impacto do diagnóstico da fissura labial, em especial se este foi feito apenas após o nascimento da criança. Deve-se ter em mente que é mais importante o estado nutricional do bebê do que a forma como o leite é oferecido.
Bebês com fissura de palato, por outro lado, raramente conseguem mamar exclusivamente no seio materno, pela dificuldade em impor pressão intraoral negativa necessária durante a sucção. A fraca força de sucção faz com que a mamada seja longa e o bebê possa perder peso, pois seu gasto energético durante a mamada pode ser superior ao ganho obtido com a ingesta do leite. Nestes casos, pode-se lançar mão de utensílios que facilitem a alimentação. Estes utensílios podem ser usados para complementar o aleitamento no seio materno ou como seu substituto. Sempre que possível, estimula-se a extração do leite materno e sua oferta com o utensílio escolhido. Caso contrário, opta-se pelo tipo de leite indicado pelo pediatra.
Mamadeira e outros utensílios
Os utensílios mais utilizados são a chuquinha, nos primeiros meses de vida, e posteriormente a mamadeira comum. Estes utensílios têm como vantagem exigirem menor esforço de sucção do que no seio materno. A escolha de um bico macio, preferencialmente de látex e com furo ligeiramente aumentado, facilita a mamada. Pode-se também, se necessário, pressionar o bico da mamadeira com o dedo indicado obedecendo ao ritmo das sucções e às pausas para respiração, ou utilizar mamadeiras espremíveis, ainda raras no Brasil. É importante manter o bico sempre cheio de leite e a postura do bebê mais verticalizada, a fim de minimizar o refluxo nasal de alimentos pelo nariz durante a deglutição.
Sonda Nasogástrica (SNG)
Bebês com fissura de lábio e/ou palato, nascidos a termo e sem qualquer outra anomalia associada, podem e devem ser alimentados da forma mais parecida possível a qualquer outro bebê, desde as primeiras horas de vida, não necessitando, portanto, do uso de SNG. Na prática, no entanto, não é raro encontrarmos nas maternidades, bebês nestas condições sendo alimentados por meio de SNG.
A alimentação por meio de SNG deve ser restrita aos casos em que não se obtém sucesso com as tentativas de alimentação por via oral. Tal indicação é feita pelo fonoaudiólogo e acaba se restringindo a poucos casos, sem relação direta com a presença da fissura, mas com outras anomalias associadas.
Quando um bebê com fissura de palato apresentar grande dificuldade alimentar,o fonoaudiólogo deve suspeitar da presença de outros comprometimentos ou síndromes associadas, até então não identificados.