Ter uma rotina organizada e proporcionar a realização de tarefas básicas do dia a dia são fundamentais para desenvolver a autonomia nas crianças. Ninguém nasce autônomo nem se torna autônomo da noite para o dia. É preciso aprender a ser autônomo.
Se a família consegue estabelecer uma rotina saudável, com horários definidos para determinadas tarefas diárias, a criança tem mais segurança e pode, aos poucos, começar a realizar essas tarefas, que serão a base para diversas habilidades que precisará desenvolver no futuro, na escola.
Enquanto a criança não consegue ou não sabe fazer as tarefas diárias sozinha, é preciso decidir e fazer por ela. Por exemplo, separar a roupa que irá usar após o banho ou para sair, preparar e colocar a comida no prato, calçar os sapatos, etc. Pouco a pouco, deve-se chamar a criança para fazer essas tarefas em parceria. O adulto conduz e vai dando pequenas ações para a criança realizar junto. Com o tempo, a criança pode ir realizando sozinha as tarefas que o adulto orienta, de longe. Aos poucos, a criança já poderá realizar sozinha algumas dessas atividades, senão todas, que dizem respeito aos seus cuidados diários, inclusive tomando algumas decisões, como por exemplo qual roupa usar, o que fazer primeiro numa sequência de tarefas ou como realizará determinada ação.
Escolher a própria roupa, se arrumar sozinho, separar os materiais da escola, arrumar a cama, cuidar da louça que usou na refeição, ajudar a fazer algum alimento, irão preparar a criança também para as atividades escolares. Ter autonomia para fazer e entregar tarefas de casa, ler e interpretar um texto, escolher a melhor estratégia para resolver um problema matemático, saber como escrever ou como apresentar suas ideias em um grupo, serão desenvolvidos mais facilmente se, no dia a dia, a criança viver situações em que precise decidir, achar novos caminhos, fazer escolhas, mostrar que sabe e que é capaz de realizar tarefas sem um adulto. Uma criança que depende de um adulto para tudo não terá condições de planejar, organizar, criar estratégias ou levantar hipóteses sozinha. E, para que a criança tenha segurança e iniciativa, ter uma rotina estabelecida e conhecê-la é o que proporciona o desenvolvimento dessa autonomia.
É muito importante lembrar que há um longo trajeto a percorrer entre o fazer PELA criança e a criança fazer SOZINHA, e que isso exige tempo e dedicação dos adultos no entorno dela. Muitas vezes, a ajuda de um profissional é necessária para a identificação de problemas na organização de uma rotina saudável e de dificuldades na construção da autonomia. Nesse caso, o psicopedagogo pode desenvolver um trabalho focado com a criança e fazer a orientação dos adultos que convivem com ela.
Sandra Lobo é psicopedagoga da Clínica Fluir Terapias Integradas